quarta-feira, 4 de maio de 2011

Yann Tiersen regressa a Portugal

Não é o nome de um filme, nem é qualquer tipo de ficção. Yann Tiersen vai mesmo regressar a Portugal para dois concertos: amanhã, dia 5 de Maio, no Lx Factory, em Lisboa, e sábado, dia 7, no Hard Club, no Porto. Volta para a apresentação do seu novo álbum, Dust Lane (2010), mas acredito que, tal como eu, muitos serão aqueles que vão querer ouvir os temas que trouxeram Tiersen para junto do grande público. São eles as músicas de dois filmes de referência do cinema europeu: Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain e Goodbye Lenin!. Falemos pois um pouco sobre eles.
Amélie é uma jovem de vinte e três que trabalha num café em Montmartre, coração de Paris. Um dia decide mudar a vida daqueles que a rodeiam para melhor: faz de cupido e de anjo de guarda. Só não consegue lidar com o seu próprio isolamento, fiel companheiro desde infância.
Há filmes que são mágicos. Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet, é um deles; parte dessa magia vive sem dúvida na banda sonora, aliás vencedora de vários prémios (como o César Award), que se juntam a muitos outros arrecadados pelo filme.
A dupla Tiersen-Jeunet terá, no entanto, sido fruto do acaso. Em entrevista ao Urban Cinefile, o Jeunet diz ter descoberto o compositor quando, ao conduzir, ouviu pela primeira vez as músicas de Yann Tiersen. "Nessa mesma noite era dono de todos os seus álbuns.", afirma o realizador, que se apressou em contactar o músico. "Num período de apenas duas semanas, ele compôs dezanove peças para nós. (...) A parte difícil foi o processo de selecção, pois todas as suas faixas resultavam com o filme." 
Jeunet não mente; tal como nós, quem nos lê terá também comprovado isto mesmo. A relação entre o som e a imagem no filme de Amélie é, de facto, simbiótica. São ambos mensagens nostálgicas mas alegres; profundas mas agradáveis.

L'Autre Valse d'Amélie de Yann Tiersen


Não é difícil adivinhar o que se trata em Goodbye Lenin! (2003). A acção do filme, de Wolfgang Becker, decorre na Alemanha dos finais da Guerra Fria, onde um jovem tenta esconder da mãe, saída de um coma prolongado, que, com a queda do muro de Berlim, Alemanha de Leste, nação de que ela tanto gostava, tinha desaparecido.
Os episódios em que Alex Kerner é apanhado para que, de forma ilusória, a República Democrática Alemã não finde aos olhos da mãe, fazem de Goodbye Lenin! um filme rico em oscilações da densidade dramática, que tantas vezes tem laivos de comédia. Yann Tiersen encarregou-se de garantir tais oscilações, deixando para trás o acordeão e a musicalidade francesa que caracterizam as faixas de Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, para compor faixas mais mais sóbrias e introspectivas, que rimam perfeitamente com o cariz agridoce de Goodbye Lenin!.
"Summer 78" é a faixa principal das dezoito que fazem parte deste filme, que, porque muitas têm pouca duração, tornam-se por vezes de difícil apreciação. Isto não é de todo uma queixa que signifique. No fim de contas a banda sonora de Goodbye Lenin! é de uma dimensão enorme com ou sem imagem. Dentro ou fora da sala de cinema.

Summer 78 de Yann Tiersen


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

sexta-feira, 29 de abril de 2011

This is England de Shane Meadows

Esta é uma história sobre skinheads. Em 1983, um jovem problemático de 12 anos é acolhido por um grupo desta subcultura; a mesma cujas raízes remetem para os anos 60, época do ska, do soul e do reggae. É a história de um jovem que é apanhado no confronto entre esta facção e a facção ligada aos movimentos nacionalistas, declamadores da segregação racial, da violência e da anarquia.
This is England (2006) é quase um documentário. Trata-se um retrato fiel da escalada de grupos de jovens até à marginalidade. E Meadows atenua eficazmente a fronteira entre o que é ficção e o que é real, não fosse o filme  baseado em experiências da sua própria infância: "Também eu fui skinhead em 1983", disse o realizador em entrevista ao The Observer.
Talvez seja este o motivo que faz de This is England algo tão credível. E isso transparece na excelente banda sonora - composta por temas originais do compositor italiano Ludovico Einaudi e por temas adaptados de bandas como Toots & Maytals e UK Subs. O minimalismo de Einaudi contrasta com a génese das restantes músicas constituintes da banda sonora, pondo termo à inconsciência de uma geração que não conhecia nada senão divertimento; que não pensava nas consequências dos seus actos.
Vive-se este filme. Vive-se neste filme. This is England não é uma realidade distante. Hoje o mundo esteve de olhos postos numa Inglaterra unida em torno de uma causa - o casamento na família real. Temeu-se a invasão das ruas londrinas por grupos anarquistas. Os mesmos responsáveis pelas histórias racistas e xenófobas que os média veiculam.
O que é Inglaterra, afinal?
Não é por acaso que, ainda no ano passado, Shane Meadows e Jack Thorne (guionista) deram continuidade a This is England numa série de apenas quatro episódios, cuja acção decorre três anos após a história do filme - o projecto chama-se, portanto, This is England '86.
Aqui para nós, não será também por acaso que a banda sonora da série esteja também a cargo de Ludovico Einaudi. Deixamo-vos, ainda assim, com uma proposta diferente:

Warhead de UK Subs

PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Escolhas de Realizador #1

DARREN ARONOFSKY

É difícil ignorar o crescimento deste senhor no panorama do cinema actual. Seria ainda mais difícil que as bandas sonoras que integram os cinco filmes que realizou até hoje não fizessem parte do sétima partirura. São as escolhas de Aronofsky que fazem dele protagonista no primeiro "Escolhas de Realizador".

O thriller psicológico Pi (1998) foi o primeiro filme assinado por si a ser divulgado. Conta a história de Max Cohen, obcecado pelos números, que acredita na possibilidade de explicação dos processos da natureza através da matemática.
"11:15, restate my assumptions:
1. Mathematics is the language of nature.
2. Everything around us can be represented and understood through numbers.
3. If you graph these numbers, patterns emerge.
Therefore: There are patterns everywhere in nature."
A loucura que acaba por tomar conta do protagonista não se funda só nos diálogos de tipo obsessivo-compulsivo, nem no preto e branco que Aronofsky escolheu para retratar o mundo crú e dada (mas certamente pouco aleatório) que seria aquele perfeitamente justificado pelos números; está também enraizada na banda sonora escolhida pelo realizador, que lançou um grande nome da cena musical na sétima arte: Clint Mansell. O compositor, que passou desde então a acompanhar Aronofsky, junta-se a nomes como Massive Attack e outros monstros da electrónica para criar ambientes praticamente surrealistas. São eles as dores de cabeça de Cohen, as suas alucinações e as suas paranóias.

Pi r^2 de Clint Mansell



Requiem for a Dream (2000) foi o filme que projectou Aronofsky. A trama desenrola-se durante três estações - Verão, Outono e Inverno - num ano das vidas de quatro personagens, que, entregues ao Vício, acabam por ter finais trágicos, frutos da adição e da loucura. Os ritos que concretizam os abusos, essas sequências de sons e imagens que vincaram o estilo de Aronofsky, são a primeira razão para o desconforto do espectador do filme.  
A segunda terá de ser, obviamente, o crescendo da intensidade dramática da banda sonora, a cargo de Clint Mansell. Com o isolamento das quatro personagens num mundo ideal que progressivamente é invadido pela realidade, Mansell enverga pelo neoclassicismo e recorre a sons curtos e quebrados, separados pelo silêncio (stacatto), justificando o frio e o desconforto observado na tela; atrevo-me a dizer que está tão presente na música de Requiem for a Dream o extremismo da condição humana quanto nas imagens violentas que Aronofsky captou.

Lux Aeterna de Clint Mansell



Em 2006 surge The Fountain. Através de um enredo complexo, que junta três vidas diferentes ligadas entre si mas separadas por cerca de quinhentos anos, Aronofsky conta-nos uma história sobre o que nos é tão intrínseco: o amor, a morte, a espiritualidade e a fragilidade da nossa existência.
Não é fácil interpretar este filme. Ainda que nos pareça simples a ligação entre as três histórias através de elementos visuais semelhantes, o esoterismo e as escolhas de Aronofsky tornam a tarefa um pouco mais complicada.
O mistério e as perguntas em aberto que lança The Fountain   são brilhantemente representados pela banda sonora do filme, uma vez mais a cargo de Clint Mansell.
Desta vez com a participação de Mogwai, banda escocesa do movimento post-rock, o compositor conseguiu estabelecer as pontes necessárias entre as personagens do filme, com faixas repletas de alma; recorreu para isso a elementos orquestrais e electrónicos, que, como referiu em entrevista à Comic Book Resources, fossem capazes de representar o homem, tanto na  sua orgânica como na metafísica.

Death is a Road to Awe de Clint Mansell e Mogwai



Com The Wrestler (2008), Aronofsky faz prova da sua versatilidade. Uma trama simples, ainda assim profunda, sobre um lutador profissional, que, depois de ter sofrido um ataque cardíaco, tenta reconstruir a vida que foi desgastando com o wrestling. Tenta uma reaproximação com a filha. Tenta uma relação honesta com uma stripper. Só depois percebe que a solidão que escolheu e onde caiu é parte de si e daquilo que queria para a sua vida.
Ao contrário daquilo a que nos tinha habituado, Aronofsky optou sobretudo por músicas já existentes para compor a banda sonora do filme; são elas temas marcantes do Glam Metal dos anos 80. Sweet Child o' Mine de Guns N' Roses e Round Round de Ratt são alguns dos exemplos.
Clint Mansell não fica no entanto de fora; em vez disso, o compositor junta-se a Slash, guitarrista dos GN'R, e criam temas originais em The Wrestler, por sua vez bem diferentes da loucura e da electricidade dos temas adaptados.
É difícil esquecer uma cena em que, em diálogo, a personagem principal, Randy 'The Ram', e a stripper, Cassidy, retratam através da música, a própria essência de todo o filme:
"Randy 'The Ram': Goddamn they don't make em' like they used to.
Cassidy: Fuckin' 80's man, best shit ever!
Randy 'The Ram': Bet'chr ass man, Guns N' Roses! Rules.
Cassidy: Crue!
Randy 'The Ram': Yeah!
Cassidy: Def Lep!
Randy 'The Ram': Then that Cobain pussy had to come around & ruin it all.
Cassidy: Like there's something wrong with just wanting to have a good time?
Randy 'The Ram': I'll tell you somethin', I hate the fuckin' 90's.
Cassidy: Fuckin' 90's sucked.
Randy 'The Ram': Fuckin' 90's sucked." 

Não é inocente o desfazamento entre os dois tipos de música neste filme de Aronofsky. Também não é inocente a ausência de banda sonora (contrariamente a todos os outros filmes do realizador) em grande parte das cenas. É o contraste que cria ritmo em The Wrestler; é a dualidade de um monstro de palco, entertainer e louco, e um homem comum e sozinho, que faz o que pode para esquecer e ultrapassar o Wrestling, que o desgastou.

Glory Be de Clint Mansell e Slash



Black Swan (2010) foi o filme mais mediatizado de Aronofsky. A corrida pela 73ª edição dos Óscares, que decorreu em Fevereiro deste ano, fez com que ainda não tenhamos esquecido a história de Nina, uma bailarina que, depois de ter sido escolhida para interpretar a rainha dos cisnes no ballet do Lago dos Cisnes, mergulha no lado mais negro de si. Só assim seria capaz de interpretar o cisne negro.
O regresso de Aronofsky ao que é misterioso confere ao filme uma força e tensão indubitáveis. É normal sentirmo-nos acelerados ao ver Black Swan
A bipolaridade que Nina desenvolve em busca de uma actuação perfeita é acompanhada por Tchaikovsky, numa versão contemporânea das suas músicas do Lago dos Cisnes. Esta adaptação fez com que Clint Mansell não pudesse concorrer para a última edição dos Óscares na categoria de melhor banda sonora original.
Ainda assim, considero esta uma das bandas sonoras mais geniais que já ouvi. A acrescentar aos temas já conhecidos do compositor russo, está uma panóplia de sons electrónicos produzidos por Mansell, que vincam a transformação de Nina num outro ser; um ser que a consome.

Perfection de Clint Mansell


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Feliz Centésimo Vigésimo Segundo Aniversário!

Quando já nos é distante a ideia de um filme mudo, resta congratular quem, nos primórdios da sétima arte, conseguiu encher-nos de alegrias e tristezas sem dizer uma única palavra. Parabéns Charles Chaplin.
Guardámos até hoje a figura de Charlot, personagem que mais marcou a passagem de Chaplin pelo cinema. Quem pode esquecer aquele vagabundo dotado de maneiras bem ao estilo de um verdadeiro gentleman? Quem não se lembra do bigodinho de broxa, do paletó preto, do chapéu em forma de coco, ou até mesmo da bengala rodopiante? Talvez não se saiba tão bem que por trás de toda aquela a mímica exagerada bem como  da  famosa comédia pastelão estava o trabalho de um génio multifacetado. Um actor sim; mas também um director, um guionista e um compositor. Peguemos neste último traço de Sir Charles Chaplin.
Pouco antes da hegemonia do cinema "falado", Chaplin escreveu e realizou um dos filmes mais badalados de todos os tempos, Modern Times (1936), em que Charlot tenta sobreviver aos tempos da industrialização e das profundas alterações no campo do trabalho e da vida social que estes implicaram. A música, como em todos os filmes de sua autoria é um marco na história do cinema. Também ela faz parte do patético da situação, desde o esgotamento nervoso de Charlot, operário fabril em condições precárias, à sua tentativa  de reinserção na sociedade, depois da saída do hospício. Todos estes momentos são pois acompanhados por sons inesquecíveis, que, à semelhança da arte de fazer dispensar a voz e ainda assim criar sentimentos, podiam perfeitamente dispensar a imagem e conseguirem na mesma contar uma autêntica história de comédia.

The Nonsense Song de Charles Chaplin


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Angola, Histórias da Música Popular de Jorge António

Se o cinema e a música se fazem por toda a parte, então também se fazem entre as lusofonias. É o caso do documentário de Jorge António: Angola, Histórias da Música Popular (2005), baseado no livro do historiador angolano Mário Rui Silva, Estórias para a História da Música em Angola.
Não é fácil encontrar documentos que nos revelem a história cultural de um país que viveu em pleno colonialismo até aos anos 1970, para logo de seguida ser assolado por uma guerra civil. Entre os registos que se perderam e os que nunca existiram, Jorge António viajou através das memórias da TPA (Televisão Pública de Angola), da RTP, entrevistou figuras reconhecidas na época dentro do seio musical do país e ainda conseguiu acesso a parte do arquivo da PIDE.

Esta não é uma viagem qualquer. É uma viagem que nos revela como progrediu a música angolana desde o semba (de onde surge o samba brasileiro, igualmente) ao kuduro mais moderno. É uma jornada que nos ensina a língua kimbundu, nos deixa espreitar para os musseques (bairros periféricos) de Luanda e espelha a identidade de um país que apenas no século XXI sentiu as primeiras brisas de liberdade.
Personalidades marcantes na história e cultura angolana como “Liceu” Vieira Dias, a banda N'Gola Ritmos, Bonga, os Jovens do Prenda são relembrados neste documentário histórico: « (…) um exercício de síntese e montagem, pois conseguimos contar 50 anos de História em 52 minutos.», palavras do realizador.

Manazinha de N'Gola Ritmos


PUBLICADO POR REGINA MORAIS

domingo, 10 de abril de 2011

A Single Man de Tom Ford

Califórnia suburbana dos anos sessenta. Um professor de inglês de meia-idade, George Falconer, tenta reaprender a viver após a morte súbita do amante de longa data, Jim. Cumpre por isso os gestos diários e os ritos sociais que o prendem à realidade; mas George paira sobre si, e esta observação, que se traduz numa profunda apatia da pessoa observada, só é quebrada por escassos momentos de lucidez, que o trazem de volta ao chão. 
É este ritmo que tanto interessa ao falar de A Single Man (2009). Os momentos que embelezam o filme advém precisamente dele; e a banda sonora absorve todas estas características. De facto, é de louvar o trabalho de Abel Korzeniowski (que contou com a colaboração de Shigeru Umebayashi) na composição da trilha original do filme. Quer as faixas da autoria do compositor sueco, quer os temas não originais, de onde podemos extrair nomes como Etta James e Miriam Gauci, são hinos ao luto de George, e ao luto em geral. São momentos de apatia e de lucidez, e de tudo aquilo que as une; são a possibilidade de seguir em frente ou não.

Daydreams de Abel Korzeniowski

PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

sábado, 9 de abril de 2011

Despicable Me de Pierre Coffin e Chris Renaud

Gru, O Mal-Disposto - é esta a tradução portuguesa para o título do filme de animação Despicable Me (2010). Um filme com a direcção de Pierre Coffin e Chris Renaud e que nos transporta para o mundo da vingança e ganância de um espião (muito sentimental) que anseia desde pequeno ser dono da Lua, mas terá de enfrentar o seu rival que ambiciona o mesmo e detém mais meios para o fazer.
Pensei que fosse mais uma filme de animação banal, mas achei desde logo curioso o tema em si do filme e chamou-me à atenção como se iria desenrolar esta história. De facto, a meio do filme podemos perceber o seu apelo à sentimentalidade, através de Gru, que apesar de se considerar um super-vilão, não resiste à inocência e compaixão de três meninas que vivem num orfanato, decidindo adopta-las.
As músicas produzidas especialmente para a banda sonora encaixam perfeitamente com as várias cenas do filme. A música Fun, Fun, Fun não poderia aparecer da melhor forma no filme, aquando da viagem na montanha russa das meninas órfãs e de Gru. O rapper Pharrel Williams foi o responsável pela composição, direcção e produção da maioria das músicas e efeitos sonoros da longa-metragem. A questão é: o que faz um artista predominantemente de músicas hip-hop/rap num filme de animação? "Eu sempre gostei de cartoons e nunca deixei de gostar mesmo quando não estava em vogue falar sobre cartoons. Quando me deram esta oportunidade, eu não a podia perder. Trabalhar no Despicable Me expandiu a minha mente", disse o músico sobre a sua experiência no filme.
As músicas Despicable Me e Prettiest Girls foram indicadas para um Óscar da Academia 2010, na categoria melhor trilha original.

Prettiest Girls de Pharrel Williams


PUBLICADO POR JOÃO MARTINS

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Tindersticks & Claire Denis: 13 anos de música e cinema

Só tinham passado 3 anos desde a formação dos Tindersticks e já estavam a ser convidados por Claire Denis para realizarem a banda sonora de Nénette et Boni. Se foi pela voz cativante de Stuart Staples ou pelas composições de Dickon Hinchliffe (ex-membro da banda), ninguém sabe. O que é certo, é que já passaram 13 anos desde que se iniciou esta parceria, que ainda se desenvolve. No total, são 6 filmes musicados pelos Tindersticks: Nénette et Boni (1996), Trouble Everyday (2001), Vendredi Soir (2002), L'Intrus (2004), 35 Rhums (2008) e White Material (2009).
Nesta oitava edição do IndieLisboa, festival internacional dedicado ao cinema independente, os Tindersticks levarão ao palco da Aula Magna de Lisboa, dia 11 de Maio, os temas que produziram para a cineasta. Antecedendo o concerto, dia 26 de Abril será lançado o álbum que reúne todas as peças criadas: Tindersticks- Claire Denis Film Scores 1996-2009.

Trouble Everyday de Tindersticks


PUBLICADO POR REGINA MORAIS

sexta-feira, 25 de março de 2011

Where The Wild Things Are de Spike Jonze

Spike Jonze sabia, do início, que seria Karen O, conhecida pela sua prestação em The Yeah Yeah Yeahs, a compor a trilha sonora de Where The Wild Things Are (2009). A escolha parece ter sido acertada, facto que se comprovou após o lançamento de All Is Love, canção que a cantora escreveu juntamente com Nick Zinner (guitarrista em The Yeah Yeah Yeahs), e que serviu de lead single para as músicas do filme.
Em entrevistas dadas à New York Movies e à Paste Magazine, Karen O caracterizou o conjunto de músicas que integram esta banda sonora como melodias simples, de fácil execução mas carregadas de sentimento, que tanto crianças quanto adultos seriam capazes de gostar. Eu, enquanto adolescente, também não lhes fiquei indiferente.
A articulação de tais caracterísitcas à acção e aos diálogos de Where The Wild Things Are foi brilhantemente conseguida, tendo-me transportado não para aquele lugar, mas para outro tão semelhante, que era o da minha infância. E acho que ver (e ouvir) esta peça de genialidade é sobretudo isso; é entrar com Max naquele barquinho que o leva até à ilha, e sair do outro lado, noutro mundo, que não o dele, mas sim naquele que foi o nosso até crescermos.

Sailing Home de Karen O and The Kids

PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

sábado, 19 de março de 2011

Adeus Pai de Luís Filipe Rocha

Este filme constitui parte das lembranças verdes que tenho dos anos 90. Hoje, dia em que homenageamos os nossos pais, pareceu-me bem falar um pouco dele. Isto porque se existem motivos devido aos quais nunca me hei-de esquecer daquelas férias nos Açores, um deles é concerteza a música dos Delfins, que tantas vezes transportei no discman. O outro é, claro, a natureza da relação retratada de forma tão natural por Luís Filipe Rocha.
Para os mais esquecidos, Adeus Pai (1996) é a história de um pai que, não estando muito presente na vida do filho, decide passar umas férias de Verão nos Açores, levando-o com ele. A novidade anima o rapaz, na altura com 13 anos, que depois percebe que toda aquela aventura tem um senão: uma despedida.

"Era uma vez a história de um filho que gostava de ter um pai que gostasse de ter um filho". São estas as palavras que resumem, de forma crua mas verdadeira, toda a acção do filme. Um filme que é sempre contado da perspectiva de uma criança que tenta captar a atenção do pai, até ao dia em que tal esforço deixa de ser preciso. E cresce uma relação estranha, mas bonita. 
Ainda que hoje seja difícil considerar Adeus Pai da mesma maneira com que o fazia há uns anos atrás, é esta característica simplista (aliada a um excelente trabalho de câmara), que se traduz também na banda sonora do filme, composta por melodias pop minimalistas, que faz dele uma boa referência no cinema português agora e sempre.

Não Vou Ficar de Delfins


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

domingo, 13 de março de 2011

127 Hours de Danny Boyle

Esta é a história real de Aaron Ralston, que, em 2003, ficou preso num dos desfiladeiros do Blue Canyon, nos EUA. A acção desenrola-se durante cinco dias; os cinco dias em que o alpinista tenta sobreviver com os poucos meios disponíveis, entre eles uma câmara de filmar, que utilizou como diário de bordo.
127 Hours (2010) é digno de uma entrada no sétima partitura. If I Rise é o nome da canção que se destacou da trilha sonora deste filme, composta por temas originais e não originais. A canção, de A. R. Rahman, Rollo Armstrong e Dido, é uma autêntica mistura de tendências musicais, que oscilam do Pop às músicas do mundo. E, no fim de contas, é também na fluidez que assenta a essência do filme; da lucidez ao desespero (sem deixar de homenagear o actor James Franco), da beleza ao macabrismo do deserto, da felicidade à mais profunda tristeza. If I Rise é, no entanto, uma mensagem de esperança, bem como a mensagem que deve ser retida ao ver 127 Hours

Não posso deixar de referir o espanto que foi ouvir, contra todas as minhas expectativas, Bill Withers e o seu "dia maravilhoso" enquanto Danny Boyle vincava o total isolamento de Aaron Raltson no imenso Canyon. Este momento resume perfeitamente o carácter do filme, ainda que ao som de um tema adaptado. É a fusão de uma ironia esmagadora com o optimismo do alpinista quando percebe que a saída do buraco não iria ser pacífica. Um outro marco importante terá de ser, como tanta vezes li na crítica, o crescer da tensão e do conflito interior, tão bem capturados por Danny Boyle e, uma vez mais, acompanhados por sons inesquecíveis. Como este.

Acid Darbari de A. R. Rahman

PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

terça-feira, 8 de março de 2011

The Hours de Stephen Daldry

Soube há pouco tempo que Philip Glass vem tocar, em Maio, à Casa da Música, no Porto. Após ter lido a notícia senti um breve arrepio que se traduz na grande (se não gigante) admiração que tenho pelo compositor, e no facto de que muito dificilmente irei vê-lo ao vivo. É que no ecrã são diversas as marcas deixadas por um dos mais influentes músicos do século XX. Fez trilhas sonoras para filmes como Koyaanisqatsi (1982), Kundun (1997) e The Hours (2002). É sobre esta última banda sonora que vos irei falar. Vencedoras de um BAFTA, as catorze faixas que compõem a trilha sonora deste filme são, sem dúvida, majestosas.  Por outro lado, quem conhece a história que as acompanham, baseada no livro de Virginia Woolf Mrs. Dalloway, diz não a esquecer.
Do filme guardo um momento especial que reúne este dois aspectos tão bons de The Hours - o momento em que Richard Brown (Ed Harris) se dirige a Clarrisa Vauhgn (Meryl Streep), dizendo-lhe:  «I don't think two people could have been happier than we've been». O que há de tão mágico neste momento,  para além da força das palavras, não é só o suícido do amigo de longa data de Clarrissa, mas sim a explosão de sons que surgem com ele; o piano de Philip Glass, que, obedecendo a uma estrutura quase simetricamente definida, ordena o caos no ecrã e dá sentido a toda aquela cena e àquele acto desesperado. Se não fosse The Hours uma crítica profunda aos mecanismos actuais de vida, rotineiros e responsáveis pelo enfado, não faria sentido faixas tão ricas como as de Glass. São elas quem justificam os ambientes monótonos e tristes criados por Stephen Daldry, dando-lhes mais ritmo e sentimentalidade.

Choosing Life de Philip Glass


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

terça-feira, 1 de março de 2011

The Social Network de David Fincher

Espero que não seja mau sinal começar o blogue com um pedido de desculpas. O meu versa, antes de mais, pela óbvia escolha que fiz para uma primeira entrada. Posso, no entanto, defender-me: a banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross em The Social Network (2010) conseguiu arrecadar 6 prémios, entre eles o da Academia, aos quais é-me impossível ficar indiferente. E independentemente das discussões que se geraram sobre se a trilha é ou não merecedora de tais prémios, a verdade é que é pelo menos de se lhe tirar o chapéu. Também eu esperei (e desesperei) até ao momento em que a estatueta  dourada pousou nas mãos de Trent Reznor e Atticus Ross  há duas noites atrás; e também tive algumas dúvidas sobre se não teria a Academia cometido um erro em optar por The Social Network ao invés de Inception (2010), de Christopher Nola, para o prémio de Melhor Trilha Original.

Depois percebi. Depois de comparar ambos os filmes, percebi que este é um conjunto de músicas perfeitas, que perfeitamente encaixam nas cenas de David Fincher. Uma mistura de sons que tão bem caracterizam a era digital e o Facebook. Que nos transportam desde o momento em que Mark Zuckerberg, bêbedo e rejeitado pela namorada, cria uma rede social (o FaceMash) onde pudessem ser fisicamente comparadas jovens estudantes, até ao momento da criação do Facebook, a ferramenta da Internet mais utilizada a nível global.
A ruptura com os padrões a que nos acostumamos quando falamos da dupla "grandes  filmes, grandes músicas" foi, na minha opinião pouco cinéfila, o que fez  de Trent Reznor e Atticus Ross os vencedores da categoria nesta edição dos Óscares. The Social Network reúne faixas de cariz pós-industrial e experimental - se assim me permitem rotular - o que acaba por ser uma escolha não tão óbvia quando se tem a Academia como referência. A predominância de melodias pouco usuais fazem desta banda sonora um exemplo a seguir. Variam desde sons bem ao estilo do famoso jogo Pacman, a edições de clássicos como "In the Hall of the Mountain King" (sim, é verdade).

In Motion de Trent Reznor e Atticus Ross


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO