quarta-feira, 4 de maio de 2011

Yann Tiersen regressa a Portugal

Não é o nome de um filme, nem é qualquer tipo de ficção. Yann Tiersen vai mesmo regressar a Portugal para dois concertos: amanhã, dia 5 de Maio, no Lx Factory, em Lisboa, e sábado, dia 7, no Hard Club, no Porto. Volta para a apresentação do seu novo álbum, Dust Lane (2010), mas acredito que, tal como eu, muitos serão aqueles que vão querer ouvir os temas que trouxeram Tiersen para junto do grande público. São eles as músicas de dois filmes de referência do cinema europeu: Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain e Goodbye Lenin!. Falemos pois um pouco sobre eles.
Amélie é uma jovem de vinte e três que trabalha num café em Montmartre, coração de Paris. Um dia decide mudar a vida daqueles que a rodeiam para melhor: faz de cupido e de anjo de guarda. Só não consegue lidar com o seu próprio isolamento, fiel companheiro desde infância.
Há filmes que são mágicos. Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain (2001), de Jean-Pierre Jeunet, é um deles; parte dessa magia vive sem dúvida na banda sonora, aliás vencedora de vários prémios (como o César Award), que se juntam a muitos outros arrecadados pelo filme.
A dupla Tiersen-Jeunet terá, no entanto, sido fruto do acaso. Em entrevista ao Urban Cinefile, o Jeunet diz ter descoberto o compositor quando, ao conduzir, ouviu pela primeira vez as músicas de Yann Tiersen. "Nessa mesma noite era dono de todos os seus álbuns.", afirma o realizador, que se apressou em contactar o músico. "Num período de apenas duas semanas, ele compôs dezanove peças para nós. (...) A parte difícil foi o processo de selecção, pois todas as suas faixas resultavam com o filme." 
Jeunet não mente; tal como nós, quem nos lê terá também comprovado isto mesmo. A relação entre o som e a imagem no filme de Amélie é, de facto, simbiótica. São ambos mensagens nostálgicas mas alegres; profundas mas agradáveis.

L'Autre Valse d'Amélie de Yann Tiersen


Não é difícil adivinhar o que se trata em Goodbye Lenin! (2003). A acção do filme, de Wolfgang Becker, decorre na Alemanha dos finais da Guerra Fria, onde um jovem tenta esconder da mãe, saída de um coma prolongado, que, com a queda do muro de Berlim, Alemanha de Leste, nação de que ela tanto gostava, tinha desaparecido.
Os episódios em que Alex Kerner é apanhado para que, de forma ilusória, a República Democrática Alemã não finde aos olhos da mãe, fazem de Goodbye Lenin! um filme rico em oscilações da densidade dramática, que tantas vezes tem laivos de comédia. Yann Tiersen encarregou-se de garantir tais oscilações, deixando para trás o acordeão e a musicalidade francesa que caracterizam as faixas de Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, para compor faixas mais mais sóbrias e introspectivas, que rimam perfeitamente com o cariz agridoce de Goodbye Lenin!.
"Summer 78" é a faixa principal das dezoito que fazem parte deste filme, que, porque muitas têm pouca duração, tornam-se por vezes de difícil apreciação. Isto não é de todo uma queixa que signifique. No fim de contas a banda sonora de Goodbye Lenin! é de uma dimensão enorme com ou sem imagem. Dentro ou fora da sala de cinema.

Summer 78 de Yann Tiersen


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO