sexta-feira, 25 de março de 2011

Where The Wild Things Are de Spike Jonze

Spike Jonze sabia, do início, que seria Karen O, conhecida pela sua prestação em The Yeah Yeah Yeahs, a compor a trilha sonora de Where The Wild Things Are (2009). A escolha parece ter sido acertada, facto que se comprovou após o lançamento de All Is Love, canção que a cantora escreveu juntamente com Nick Zinner (guitarrista em The Yeah Yeah Yeahs), e que serviu de lead single para as músicas do filme.
Em entrevistas dadas à New York Movies e à Paste Magazine, Karen O caracterizou o conjunto de músicas que integram esta banda sonora como melodias simples, de fácil execução mas carregadas de sentimento, que tanto crianças quanto adultos seriam capazes de gostar. Eu, enquanto adolescente, também não lhes fiquei indiferente.
A articulação de tais caracterísitcas à acção e aos diálogos de Where The Wild Things Are foi brilhantemente conseguida, tendo-me transportado não para aquele lugar, mas para outro tão semelhante, que era o da minha infância. E acho que ver (e ouvir) esta peça de genialidade é sobretudo isso; é entrar com Max naquele barquinho que o leva até à ilha, e sair do outro lado, noutro mundo, que não o dele, mas sim naquele que foi o nosso até crescermos.

Sailing Home de Karen O and The Kids

PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

sábado, 19 de março de 2011

Adeus Pai de Luís Filipe Rocha

Este filme constitui parte das lembranças verdes que tenho dos anos 90. Hoje, dia em que homenageamos os nossos pais, pareceu-me bem falar um pouco dele. Isto porque se existem motivos devido aos quais nunca me hei-de esquecer daquelas férias nos Açores, um deles é concerteza a música dos Delfins, que tantas vezes transportei no discman. O outro é, claro, a natureza da relação retratada de forma tão natural por Luís Filipe Rocha.
Para os mais esquecidos, Adeus Pai (1996) é a história de um pai que, não estando muito presente na vida do filho, decide passar umas férias de Verão nos Açores, levando-o com ele. A novidade anima o rapaz, na altura com 13 anos, que depois percebe que toda aquela aventura tem um senão: uma despedida.

"Era uma vez a história de um filho que gostava de ter um pai que gostasse de ter um filho". São estas as palavras que resumem, de forma crua mas verdadeira, toda a acção do filme. Um filme que é sempre contado da perspectiva de uma criança que tenta captar a atenção do pai, até ao dia em que tal esforço deixa de ser preciso. E cresce uma relação estranha, mas bonita. 
Ainda que hoje seja difícil considerar Adeus Pai da mesma maneira com que o fazia há uns anos atrás, é esta característica simplista (aliada a um excelente trabalho de câmara), que se traduz também na banda sonora do filme, composta por melodias pop minimalistas, que faz dele uma boa referência no cinema português agora e sempre.

Não Vou Ficar de Delfins


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO

domingo, 13 de março de 2011

127 Hours de Danny Boyle

Esta é a história real de Aaron Ralston, que, em 2003, ficou preso num dos desfiladeiros do Blue Canyon, nos EUA. A acção desenrola-se durante cinco dias; os cinco dias em que o alpinista tenta sobreviver com os poucos meios disponíveis, entre eles uma câmara de filmar, que utilizou como diário de bordo.
127 Hours (2010) é digno de uma entrada no sétima partitura. If I Rise é o nome da canção que se destacou da trilha sonora deste filme, composta por temas originais e não originais. A canção, de A. R. Rahman, Rollo Armstrong e Dido, é uma autêntica mistura de tendências musicais, que oscilam do Pop às músicas do mundo. E, no fim de contas, é também na fluidez que assenta a essência do filme; da lucidez ao desespero (sem deixar de homenagear o actor James Franco), da beleza ao macabrismo do deserto, da felicidade à mais profunda tristeza. If I Rise é, no entanto, uma mensagem de esperança, bem como a mensagem que deve ser retida ao ver 127 Hours

Não posso deixar de referir o espanto que foi ouvir, contra todas as minhas expectativas, Bill Withers e o seu "dia maravilhoso" enquanto Danny Boyle vincava o total isolamento de Aaron Raltson no imenso Canyon. Este momento resume perfeitamente o carácter do filme, ainda que ao som de um tema adaptado. É a fusão de uma ironia esmagadora com o optimismo do alpinista quando percebe que a saída do buraco não iria ser pacífica. Um outro marco importante terá de ser, como tanta vezes li na crítica, o crescer da tensão e do conflito interior, tão bem capturados por Danny Boyle e, uma vez mais, acompanhados por sons inesquecíveis. Como este.

Acid Darbari de A. R. Rahman

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terça-feira, 8 de março de 2011

The Hours de Stephen Daldry

Soube há pouco tempo que Philip Glass vem tocar, em Maio, à Casa da Música, no Porto. Após ter lido a notícia senti um breve arrepio que se traduz na grande (se não gigante) admiração que tenho pelo compositor, e no facto de que muito dificilmente irei vê-lo ao vivo. É que no ecrã são diversas as marcas deixadas por um dos mais influentes músicos do século XX. Fez trilhas sonoras para filmes como Koyaanisqatsi (1982), Kundun (1997) e The Hours (2002). É sobre esta última banda sonora que vos irei falar. Vencedoras de um BAFTA, as catorze faixas que compõem a trilha sonora deste filme são, sem dúvida, majestosas.  Por outro lado, quem conhece a história que as acompanham, baseada no livro de Virginia Woolf Mrs. Dalloway, diz não a esquecer.
Do filme guardo um momento especial que reúne este dois aspectos tão bons de The Hours - o momento em que Richard Brown (Ed Harris) se dirige a Clarrisa Vauhgn (Meryl Streep), dizendo-lhe:  «I don't think two people could have been happier than we've been». O que há de tão mágico neste momento,  para além da força das palavras, não é só o suícido do amigo de longa data de Clarrissa, mas sim a explosão de sons que surgem com ele; o piano de Philip Glass, que, obedecendo a uma estrutura quase simetricamente definida, ordena o caos no ecrã e dá sentido a toda aquela cena e àquele acto desesperado. Se não fosse The Hours uma crítica profunda aos mecanismos actuais de vida, rotineiros e responsáveis pelo enfado, não faria sentido faixas tão ricas como as de Glass. São elas quem justificam os ambientes monótonos e tristes criados por Stephen Daldry, dando-lhes mais ritmo e sentimentalidade.

Choosing Life de Philip Glass


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terça-feira, 1 de março de 2011

The Social Network de David Fincher

Espero que não seja mau sinal começar o blogue com um pedido de desculpas. O meu versa, antes de mais, pela óbvia escolha que fiz para uma primeira entrada. Posso, no entanto, defender-me: a banda sonora de Trent Reznor e Atticus Ross em The Social Network (2010) conseguiu arrecadar 6 prémios, entre eles o da Academia, aos quais é-me impossível ficar indiferente. E independentemente das discussões que se geraram sobre se a trilha é ou não merecedora de tais prémios, a verdade é que é pelo menos de se lhe tirar o chapéu. Também eu esperei (e desesperei) até ao momento em que a estatueta  dourada pousou nas mãos de Trent Reznor e Atticus Ross  há duas noites atrás; e também tive algumas dúvidas sobre se não teria a Academia cometido um erro em optar por The Social Network ao invés de Inception (2010), de Christopher Nola, para o prémio de Melhor Trilha Original.

Depois percebi. Depois de comparar ambos os filmes, percebi que este é um conjunto de músicas perfeitas, que perfeitamente encaixam nas cenas de David Fincher. Uma mistura de sons que tão bem caracterizam a era digital e o Facebook. Que nos transportam desde o momento em que Mark Zuckerberg, bêbedo e rejeitado pela namorada, cria uma rede social (o FaceMash) onde pudessem ser fisicamente comparadas jovens estudantes, até ao momento da criação do Facebook, a ferramenta da Internet mais utilizada a nível global.
A ruptura com os padrões a que nos acostumamos quando falamos da dupla "grandes  filmes, grandes músicas" foi, na minha opinião pouco cinéfila, o que fez  de Trent Reznor e Atticus Ross os vencedores da categoria nesta edição dos Óscares. The Social Network reúne faixas de cariz pós-industrial e experimental - se assim me permitem rotular - o que acaba por ser uma escolha não tão óbvia quando se tem a Academia como referência. A predominância de melodias pouco usuais fazem desta banda sonora um exemplo a seguir. Variam desde sons bem ao estilo do famoso jogo Pacman, a edições de clássicos como "In the Hall of the Mountain King" (sim, é verdade).

In Motion de Trent Reznor e Atticus Ross


PUBLICADO POR JOÃO BARROSO